sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Pobre José!


Quão miserável foi José, emoldurado em uma figura de “pobre coitado” e nem tão necessário seria o emprego desse adjetivo composto para cristalizar o seu estado de ínfima reverência.

Um homem comum; um homem qualquer... um homem Ninguém!

De José foi abstraído tudo...

Até mesmo o nome que aí jazia confirmando a tua fraqueza e teu desequilíbrio... Não é por menos... José não suportaria embeber o mofo, festejar na solidão e ainda encontrar tantas pedras assim pelo seu caminho. Sinto que Drummond ao dedicar a José tal fardo, zombava e galhofava e esperneava, com o desdém de quem tira o doce da boca de uma criança.

E agora José?

Cadê a tua voz, teu protesto???

Sem razão, sem vida e sem tempo. Vamos José... Só mais um pouco, sinto tua boca seca, está cansado, mas... ainda está no mesmo lugar; na sarjeta entregue aos vermes e aos perdões; tua luta é vã.

Perdeu de um pouco um tudo... E será que tudo acabou?? Não José... tu ainda tens muito discurso pra calar; muitos abraços pra sufocar e não menos cuspe pra engasgar... É José, tuas antíteses ti edificam e por mais enjoado que possa parecer; é por isso que tua representação nunca foi guardada senão naquela última gaveta do nosso armário, aquela da bagunça e das tralhas que somente ocupam espaço e não despertam apetite algum.

Lamentável José... tão doces foram as tuas sedes e fomes e incoerências; tão doces que escritos em versos e poesia; esboçava um sorriso sarcástico e esbanjador de materiais pueris. Hoje, tudo acabou...inclusive tua festa!!! E o que ontem cabia em poesia, neste instante e depois e sempre, apertado, se comprime em uma prosa mal acabada e mal começada...

É José ... Nessa prosa não tem lugar para elogios, nem doces, nem agrados, nem excessos... Não condiziria contigo.

Pelo visto teu mar secou e tua porta, aquela que te abriria um novo horizonte capaz de ti fortalecer e afirmar tal plenitude, já se fechara faz tempo, e a mim, só resta agora apagar a luz...

JACYARA OSÓRIO

5 comentários:

jacyara osório disse...

À Ananda que ao tempo que tirava aquela pedra do meu caminho e do meu sapato, me fez vislumbrar a possibilidade de esvcrever este post... É José além de Drummond, eu, ambos sem nenhuma piedade...

Ananda Sampaio disse...

Muitooo bem!
amei...=)
cm sempre!
oww coisa boa é tirar pedra de sapato!
eita1 nêga tenho medo desse teu punho!
escreves tão bem q amendronta a leitura da proxima palavra!
amoo teus textos!
é um universo brilhante!
te amo!

Cynthia Osório disse...

Realmente, sem nenhuma piedade...sua.
Eu me compadeço desse e de tantos outros Josés que se configuram em nós mesmos em algumas circunstâncias de nossas vidas...
Felizmente nosso mundo ainda tem mar cheio e luz do sol!!!!!!!

Luciana Lís disse...

Jacyara, que bicho é esse que tu tem dentro de ti?

São tantas palavras, tantas verdades, tanto sentimento.
E me sinto muito orgulhosa por te ter como amiga.

Minha amiga Jacyara.
Te amo.

Cynara Littera disse...

Eita que você foi fundo no drama de JOSÈ!Pobre José,certamente Drumondd nunca pensou na densidade que esse texto carrega...você pensou!
Conhece o POEMA DESETE FACES? Tenho certeza que vc vai se deleitar.
Poema de sete faces


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.