segunda-feira, 22 de setembro de 2008

E sem tempo


Um momento à dois...
tic tac!
corações na garganta...
tic tac!
Aceno de prazer...
tic tac!
Fervura entra pernas...
tic tac!
Gozo embebido de encanto...
Não existe tempo
Dois em um...
tic tac!
Líquido viril sedento de amor...
tic tac!
Porta fechada
Cara lavada
Um sem dois
Um sem nenh(um)
E sem tempo!

JACYARA OSÓRIO

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Era uma casa muito engraçada mesmo


Era uma casa muito engraçada...

Não tinha tudo, não tinha nada...

Lembro bem daquele cenário de tantos risos, tantos pés que chegavam e sambavam aquele pagode improvisado na mesa da cozinha e arriscavam até uma coreografia meio bamba, meio embriagada...

Ouvia uma certa música que nem sei ao certo se saia de dentro de mim pela felicidadede em ver tanta gente querida junta e animada, ou se vinha daquelas bocas desafinadas mesmo, só sei que gostava muito. Sei que naquela época eu era como um quebragalho, moleque de recado.. vai ali chamar fulano, pega uma cerveja, abaixa essa tv, pega uma cadeira pra cicrano; mas se fosse pra está no meio deles, já valia a pena. Ia lá umas crianças da mesma idade que eu, nem queria saber, eu queria era sambar naquela música que nem meus pais e ser feliz como eles.

Tinha gente no chão, outros comendo com a mão, uns doendo a barriga... mas, sempre com um sorriso no rosto. O meu pai contava umas piadas, que nem se sei se eram mesmo engraçadas porque neste momento ele sempre mandava eu ir brincar, ou cismava que ouvia alguém me chamando, mas na verdade nunca tinha ninguem me chamando. Eu acho que nessa hora ele ficava meio louco.

A minha mãe, essa adorava um samba!!!

E aproveitava a galera pra fazer o almoço, que nunca foi seu forte... Aí inventava logo uma maria-isabel, que aliás era a única coisa que ela sabia fazer... além do ovo cozido, é claro!

O irmão mais velho, que saco, morria de inveja dele, estava sempre introsado e as pessoas falavam com ele como se ele ja fosse "grande" e o meu pai não mandava ele ir brincar na hora das piadas...

O irmão do meio ,o "mais preto", como brincava meu avô, esse dormia, desde o início da festa e mesmo quando acordava, parecia dormir... para ele tanto fazia às vezes, outras vezes reclamava a bagunça e a zoada. Só queria saber do almoço, se tava pronto!!!

E eu, a caçulinha do papai, tava sempre com os pés preparados para o samba e a boca ensaiando sorrisos para os conhecidos e para os que meu pai teimava em me apresentar dizendo:- essa aqui é minha caçula. E eu aind tinha que ouvir do outro lado a pessoa dizer:- eita!, mas ela tá grande. Passava ano e saia ano e ladainha ainda era a mesma. Eu tava grande mais não podia ouvir as piadas do pai, do que adiantava?

Era uma casa muito engraçada...

tudo terminava em festa... familia grande, vizinhança amiga e muitos amigos...

Ah! meus pais sempre foram muito queridos;por pés pretos, brancos, gordos, magros, esquisitos e feios... todos sambavam o mesmo samba...

E era feita( a casa) com muito esmero também...



JACYARA OSÓRIO

Encontro




"A vida é sopro, oblívio, nada antes, nada depois."Caio F. Abreu


E lá estava ele... esperava e não esperava. Seu tempo não permitia nada que não fosse o desperdício de suas vanglórias e gabações para a alimentação de sua alma pôdre e petulante. Mas, sem perceber ele esperava... noção alguma de tempo já não tinha, por se manter alheio até mesmo ao brilho do sol e a claridade das estrelas. Preferia sem dúvida o "brilho" da lama refletido pelo luar, ou mesmo o "brilho" imanado por aquele lodo empregnado de um porão escuro, era ele.


Esse era ele. Só sei que já não sabia quantos cigarros acendera ali sentado, cansadoe calado; quantos olhares desconfiados lancara ao seu redor ou mesmo quantos passos alheios contara como uma espécie de passatempo. O tempo passava impiedosamente e cada minuto funcionava como um pontá pé na bunda, que naquele instante não servia nem como um aliviador de tensão e/ou passagem para matérias inoportunas, ela estava lá, parada, sentada sem serventia nenhuma,como sendo uma companheira fiel de seu dono, só lhe cabia esperar com uma certa dormência, não tinha nem nõção do quanto esperava, se um dia, uma noite, uma parte de uma novela, ou talvez a vida toda...


Em meio a toda a sua arrogância e macheza, mesmo assim lá estava ele em uma posição de entrega e de espera... corpo arqueado pra frente espiando apetitosamente um abraço; cigarros entre os dedos em um ar de fúria a soltar fumaça, e a bunda amassada, mas sempre descansada... Sem sentir, esperava. E essa espera cada vez mais o tornava inatingível... tamanha era a sede que o encegava, deixava passar despercebido o beijo do vento e o flerte com as estrelas, que mesmo assim, em virgília o acompanha e protege.


O momento é este, o eclipse se consuma e tal fenômeno mágico e encantador se perpetua nos olhos pacientes de quem sabe que momentos como esse, o sol e a lua juntos, tardam a acontencer, mas, acontecem, hoje ou no fim da vida, eles se encontram e se beijam.


E Ele, com medo desse encontro que tanto esperava passar despercebido diante da bunda amassada e dos pés repousados pela espera; levanta, acende o último cigarro do masso e segue em frente ao encontro Dela.


JACYARA OSÓRIO





domingo, 14 de setembro de 2008

Como dizer adeus?!





"Pois é no não que se descobre de verdade o que te sobra além das coisas
casuais" Los hermanos

As coisas já não acontecem...
Roubaram o amor de mim.

Sinto-me mutilada!
Amor desobediente...

Forasteiro... levou o vento que soprava a minha dor...

E agora?

O espelho embassado do nosso amor, não reflete sequer a sombra Dele dentro de mim.

Não quero livro, nenhum riso ou risco... sombra ou água fresca!

Não quero nada! Só o nada me basta. E nada mais me basta.

Não tenho mais uma imagem onde possa projetar uma paixão.

Nem ao menos um perfume pra sentir ares impuros de traição.

Não tenho a dor.

E pobre de mim, ôca, sem ter uma dor pra me queixar e me fazer sentir mais forte no fim do percurso.

Não tenho mais do que reclamar

E sem sentido assim respiro! É o que me resta...

Não sinto sede. E era essa sede que me saciava e me alimentava e me embebia.

Ele proibiu as lágrimas de amargarem minha boca; os pensamentos de O acordarem; as palavras de pronunciarem meus sentimentos; os pés de acariciá-lO nas noites de frio.

Agonizou o sorriso de reconhecê-lO , donO desse cão que fareja seu suor.

E feito um ditador, entrou e saiu, pintou e bordou, fez e desfez; e tamanha foi a velocidade que mal percebera que existia vida neste coração que tanto serviu de saco de pancadas.

Ele se foi... nem sei se já esteve em par comigo.. Um dia ou uma noite. Sol ou lua.

Um fora da lei.

Estragou tudo!

O encontro de mãos...

O cafuné nos pés...

A cara amassada...

Ele estragou tudo!

E desde que nasci nunca tinha me sentido tão desprotegida.

E agora estou aqui. Sem hoje, sem vida , sem rumo...

Morreu um querido dentro de mim. E é uma pena que ainda não aprendi a dizer adeus... ´Será que o tempo parou e me atrasei mesmo assim pra o nosso amor?

Ah! Mas, o tempo não pára...



Jacyara Osório

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ACORDA, AMOR!



Ei tem alguém aí?
Êeeei...
Amor, levanta desse sofá... suas costas, elas vão ficar doentes.
Olha seu cabelo. Que horror...
Há horas você não toma banho.
Por que não atende a ligação dos seus amigos???
Anda!
Você precisa escovar os dentes, já esta quase anoitecendo e você nem sorriu, nem tomou café, nem leu seu livro predileto, nem assistiu aquele filme de luta, nem deu um bom dia a ninguém.
Ah, você está tão caidinho.
Vamos! veste aquela roupa colorida e meio rasgadinha que quase nunca sai do seu corpo, você adora, né?
E ... sei lá...
Lava este rosto, abre as janelas.
O dia continua lindo!
O papo com os amigos continua animado.
E a cerveja então, nem se fala, continua bem gelada.
Reaje, amor!
Estou lembrando o quanto você fica lindo assim se olhando no espelho.
Estou gostando de vê.
Só falta aquele sorriso, vai.
Ah, não!
Não chora!
Não, não...
Essa música, não.
Você fica tão triste, e ai...
Pára!
Eu te amo.
Eeeeeeeeeeeu te amo, ouviu?
ôh, por que você não me escuta?
Amor,sai desse chão, ele está muito gelado...
Amor...
Amor...
Não faz assim...
Tira essa música.
Ela é linda, mas...
É a nossa história, né?
Amor...
Reaje!
Eu estou aqui...
Sente?!
Por que você me afasta...
Sorria!!! Eu estou aqui...
Grita!!! Eu estou ouvindo...
Comemora!!! Um dia eu volto...
Sonha!!! A gente ainda vai ficar juntos...
JACYARA OSÓRIO

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Pobre José!


Quão miserável foi José, emoldurado em uma figura de “pobre coitado” e nem tão necessário seria o emprego desse adjetivo composto para cristalizar o seu estado de ínfima reverência.

Um homem comum; um homem qualquer... um homem Ninguém!

De José foi abstraído tudo...

Até mesmo o nome que aí jazia confirmando a tua fraqueza e teu desequilíbrio... Não é por menos... José não suportaria embeber o mofo, festejar na solidão e ainda encontrar tantas pedras assim pelo seu caminho. Sinto que Drummond ao dedicar a José tal fardo, zombava e galhofava e esperneava, com o desdém de quem tira o doce da boca de uma criança.

E agora José?

Cadê a tua voz, teu protesto???

Sem razão, sem vida e sem tempo. Vamos José... Só mais um pouco, sinto tua boca seca, está cansado, mas... ainda está no mesmo lugar; na sarjeta entregue aos vermes e aos perdões; tua luta é vã.

Perdeu de um pouco um tudo... E será que tudo acabou?? Não José... tu ainda tens muito discurso pra calar; muitos abraços pra sufocar e não menos cuspe pra engasgar... É José, tuas antíteses ti edificam e por mais enjoado que possa parecer; é por isso que tua representação nunca foi guardada senão naquela última gaveta do nosso armário, aquela da bagunça e das tralhas que somente ocupam espaço e não despertam apetite algum.

Lamentável José... tão doces foram as tuas sedes e fomes e incoerências; tão doces que escritos em versos e poesia; esboçava um sorriso sarcástico e esbanjador de materiais pueris. Hoje, tudo acabou...inclusive tua festa!!! E o que ontem cabia em poesia, neste instante e depois e sempre, apertado, se comprime em uma prosa mal acabada e mal começada...

É José ... Nessa prosa não tem lugar para elogios, nem doces, nem agrados, nem excessos... Não condiziria contigo.

Pelo visto teu mar secou e tua porta, aquela que te abriria um novo horizonte capaz de ti fortalecer e afirmar tal plenitude, já se fechara faz tempo, e a mim, só resta agora apagar a luz...

JACYARA OSÓRIO

Linda



Minhas mãos vão aos olhos...
E destoa aquela tão familiar visão bitolada e meio turva do meu interior.
O sol estava preto, a lua tristonha... eles foram embora!
É tarde!
Que linda tarde...
Eu estranho.
Faz calor... e que calor!
Essa sensação estreante deixa moribunda as rugas , velhas amigas daquele frio. Um frio oportunista que golpeava a alma e tripudiava na escassez de entusiasmo que residia em minha vida.
Tudo era frio e feio e nunca.
Olho pra ela... está em êxtase!
E tamanha é sua alegria que sinto minhas pernas desnutrirem-se e os olhos cegarem. Não. Eu não posso não enxergar este canto e tampouco regurgitar essa exuberância.
Seu calor me enfraquece e me assopra...
Sua soma me alimenta
E como posso não perceber esse sorriso?
Que natureza bela!
É ela... razão do meu conto e do meu canto!


Jacyara Osório

Escrever...


Ou um nome ...
Um recado...
Uma carta...
Uma canção...
Escrever é um exercício que embora faça parte da nossa rotina, não perde seu encanto.
É um contínuo desvendar-se;
É um mergulho nos recantos do inconsciente.
É uma cumplicidade entre as linhas e o “entre” elas.
É uma carência compulsiva que se ameniza com o olhar confortante do outro.
É um encontro de almas.
Um culto ao amor.
É solidão
Companhia.
É desabafo.
JACYARA oSÓRIO
"É um tanto áspero escrever para meus ouvidos, nunca acerto o ponto. Ou salgado ou insosso...”
Jacyara Osório

Diário de uma amante!


Bom dia meu lindo!!!
Eu sempre falo isso quando eu acordo... e às vezes nem percebo se tem alguém.
Todos os dias desejo à você “bons dias e boas coisas”, converso, e choro e tenho certeza que me escuta e me entende...sinto você em todos os meus momentos.
Parece loucura... ou pelo menos é o que as pessoas dizem...Mas,eu sei que não!
Não é loucura!!! É algo bem próximo disso... é amor!!!
É a minha maneira de suportar a sua ausência e a sua frieza...
Meu dia acordou bem e feliz, aliás, sempre acorda... os problemas são os mesmos; sinto saudades dos meus queridos; a universidade está lá e o café continua quente e preto! Nem queria tomar banho... quando penso naquela zoadinha da água caindo já me dá um frio!!!
Êita, estou atrasada, mas eu tenho que trancar a porta duas vezes. É mania. Ás vezes, volto do meio do caminho só pra vê se fechei mesmo, uma ou duas vezes.
Não é loucura!!!
Tenho muitos amigos e um singular inimigo, o relógio, sabe? Saiu de casa com o sol lindo e jovem e colorido; quando volto, ele já ficou preto e feio e foi embora... aí a lua linda conversa comigo e eu pergunto de ti.-Será se ele jantou? Então ela me promete que cuida muito bem de ti. Ela é minha amiga, e por isso também te ama e não vai deixar que nenhum mal ti aconteça. Eu prometo!
Espera aí.
Meu telefone está tocando e gritando e chamando... será que é você??? Não, não é você. Nunca é você.
Mas, era a minha mãe pra saber se eu jantei.
Por que será que as pessoas quando amam se preocupam com o jantar das outras?
Ah, sei lá...
Meu querido, meu amor, meu lindo...
Estou com sono, há essa hora até o “Jô Soares”já foi dormir e meu dia amanhã precisa ser feliz e bonito como foi o de hoje e o de ontem e o da semana passada. Então eu preciso dormi e você também... mas você já está dormindo, eu sei.
“Boa noite meu lindo!”
Eu também sempre digo isso quando vou dormir e te desejo “bons sonhos e boas realizações”.
Enquanto escrevia, estava aqui pensando e decidi.(...)
Sinto muitas saudades, de verdade e sempre!
Volto a dizer: Não é loucura, é amor!
Então ta...
Beijos, um monte!
P.s:
Desculpa o incomodo. Ah, você sempre desculpa.


Jacyara Osório